Arte | Artista do evento
Fotografia Sem título – Série Retrato Falado, de Eustáquio Neves
Fotógrafo e artista multimída. Teve formação artística autodidata e incorporou em sua técnica conhecimentos advindos de outras áreas de atuação. Em 1979, formou-se técnico em Química Industrial, profissão que exerceu em Goiás até 1984 e que lhe rendeu recursos para as manipulações de negativos fotográficos que viria a executar mais tarde. Da mesma forma, declarou que seu aprendizado de violão clássico o ajudou a organizar a edição de imagens com métrica e ritmo. Atuou como freelancer nas áreas de publicidade e documentação a partir de 1984. Em 1987, montou em Belo Horizonte um pequeno estúdio fotográfico. A partir de 2005, passou a produzir também vídeos. Vive e trabalha em Diamantina/MG.
Realizou mais de 30 exposições individuais em várias cidades brasileiras, em Cuba, nos EUA, na França, no Mali, em Moçambique e na Finlândia, e participou de mais de 40 exposições coletivas, destacando-se sua participação na Coleção Pirelli/MASP de Fotografia (1996), na 6ª Bienal de Havana (1997) e na Bienal de São Paulo/Valência (2007). Publicou fotos em diversas obras, com destaque para Eustáquio Neves Monograph (1996), catálogo publicado em Londres, e para Fotoportátil (2005), seu primeiro livro. Conquistou vários prêmios, com destaque para o 7º Prêmio Marc Ferrez de Fotografia (Rio de Janeiro, 1994), o Prêmio Nacional de Fotografia do Ministério da Cultura e Funarte (Rio de Janeiro, 1997), o Grande Prêmio J. P. Morgan de Fotografia (São Paulo, 1999) e o Prêmio Especial Porto Seguro de Fotografia (São Paulo, 2004).
Entre suas exposições figuram as individuais “Letters to Sea” (FotoFest International, Texas, EUA, 2017), “Valongo: Cartas ao mar” (Museu Afro Brasil, São Paulo, Brasil, 2015), “Memórias” (Centre Régional de la Photographie Nord-Pas de Calais, França, 2002) e “Lo individuo y su Memoria” (VI Bienal de Havana, Cuba, 1997); além das coletivas “Agora somos todxs negrxs?” (Galpão Videobrasil, São Paulo, Brasil, 2017), “Afro-Brasil – O retrato fotográfico no Brasil 1869/2013” (ifa Gallery Stuttgart, Alemanha, 2013), 2ª Bienal do Tokyo Metropolitan Museum of Photography (Japão, 1997) e “Novas travessias, New Directions in Brazilian Photography” (The Photographers’ Gallery, Londres, Inglaterra, 1996).
A obra fotográfica de Eustáquio Neves aborda, entre outros, temas relativos a questões raciais, e parte dela é composta por meio de técnicas de montagem em laboratório nas quais o artista sobrepõe a uma imagem principal fragmentos de outros negativos, cópias de outras imagens e informações verbais. Mark Sealy afirma que “Eustáquio Neves nos pede para analisar o que de fato mudou e abre nossos olhos para as muitas formas da escravidão contemporânea”. Para Rubens Fernandes Junior, o artista rompe com o paradigma convencional da fotografia, “não acredita apenas no registro da câmera fotográfica e produz uma imagem permeada por outras imagens que ampliam significativamente nossa percepção”. Com isso, segundo Eder Chiodetto, cria “camadas em profundidades distintas” que obrigam os olhos a “realizar uma prospecção para dentro” da imagem. Eustáquio Neves segue sua produção discutindo a diáspora negra no Brasil, enquanto rememora e recria as histórias dessa descendência africana com base em aspectos que constituem seu cotidiano, enfatizando o Brasil como o país que tem a maior população negra fora da África, e no qual o racismo estrutural é realidade. Suas publicações e exposições podem ser acompanhadas em @eustaquioneves.
Eustáquio Neves gentilmente cedeu o uso de uma das fotografias da série Retrato Falado para a comunicação visual do 3º Seminário Memórias do Corpo. Nesse projeto de série, realizado com apoio da Bolsa de Fotografia ZUM do Instituto Moreira Salles, o artista procurou reconstruir, à sua maneira, o retrato do avô, a quem não conheceu e de quem não há, nos álbuns da família, nenhuma imagem. Com isso, Eustáquio Neves pretendeu abordar, de forma crítica e poética, a escassez de fotografias de família entre os negros no Brasil. Como resultado, o artista construiu 12 caixas, cada uma contendo uma imagem na tampa e outra no fundo.